O perigo ronda o agente penitenciário dentro e fora dos presídios. Quando não está no trabalho, vira alvo de criminosos com sede de vingança
As forças de segurança pública de São Paulo travam uma luta diária para manter a ordem e garantir que a população esteja segura nas ruas. Arriscam a vida diariamente sem ao menos terem condições de trabalho adequadas às suas funções e atuam sem o devido reconhecimento. Pagamos aos nossos heróis do cotidiano os menores vencimentos do Brasil. E, ainda assim, temos instituições que estão entre as melhores.
Na última semana, o governador João Doria afirmou que enviaria à Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) o projeto para o reajuste de policiais civis, militares e técnico-científicos até o dia 31 de outubro. Sem anunciar o índice a ser aplicado, Doria faz um anúncio com meses de atraso, já que a data-base dos servidores é 1º de março, e ainda comete o erro de deixar de fora os agentes penitenciários.
Estamos falando de milhares de homens e mulheres que lidam diariamente com o pior lado do ser humano. Passam cerca de 12 horas por turno com os maiores criminosos do estado, incluindo os líderes de facções que têm na extrema violência sua principal forma de atuação. Trabalham em presídios superlotados e, com uma defasagem de 25% no quadro de servidores, são responsáveis por manter a ordem em unidades que têm uma população carcerária de quase 234 mil presos.
O perigo ronda o agente penitenciário dentro e fora dos presídios. Quando não está no trabalho, vira alvo de criminosos com sede de vingança. Os agentes afirmam que os presídios não oferecem as mínimas condições para suportar tanta gente. Relatam que, em algumas unidades, falta até água. Imagine a tensão diária a que estão sujeitos esses servidores públicos. Os presídios são barris de pólvora prestes a explodirem. E os agentes não têm os mecanismos de segurança necessários para evitar que a explosão aconteça.
Como se não bastasse o descaso do Governo do Estado, esses profissionais ainda têm que lidar com a desvalorização e a ofensa pública. Na semana passada, a apresentadora Rachel Sheherazade gravou um vídeo ofendendo e difamando toda a categoria, afirmando, no seu canal no YouTube, que os profissionais facilitam a entrada de armas e drogas nas unidades, comparando-os a bandidos.
A declaração ultrapassa os limites do bom senso, da ofensa e da difamação. É de uma irresponsabilidade sem precedentes. Sujar o nome de toda uma classe de trabalhadores para ter cliques e likes em rede social é egoísta e desmoraliza ainda mais esses que merecem nosso apoio e respeito. Não fosse por esses agentes, a sociedade conviveria com criminosos de todo tipo. Estamos falando de traficantes, assassinos, estupradores e chefes de facções criminosas que usam a crueldade e a tortura para impor suas vontades.
Nosso mandato vai lutar para que o governador repare o seu erro e inclua os agentes penitenciários no projeto que prevê a recomposição salarial para as carreiras policiais em São Paulo. Mais que isso, vamos trabalhar para que o governo dê condições ideais de trabalho a todos os profissionais que arriscam a vida para nos manter seguros.
São Paulo só estará efetivamente protegido quando policiais militares, civis, membros da Polícia Técnico-científica e agentes penitenciários tiverem efetivo suficiente, equipamentos adequados, segurança para atuar e salários condizentes com a função que exercem. Menos que isso não é aceitável para o estado mais rico e desenvolvido do Brasil.